quinta-feira, 29 de maio de 2014

LEITURAS DE MAIO

Maio é um mês muito interessante no calendário.
ANABELA BORGES
DR

A primavera carrega todo o seu esplendor no mês de Maio. No ar, paira o odor de um tempo que se eleva forte das entranhas da terra, a repuxar o esplendor da natureza aos seus valores mais elevados, em flores, rebentos, insectos, pólenes, – Maio quente, Maio frio, Maio altivo.  

As cerejas ao borralho, sem dúvida, em Maio. E as palavras, que são como as cerejas, também se tornam mais cheiinhas de sentido em Maio. 

Com Maio, chegam as feiras do livro.  Com Maio, as festas do livro e da leitura.

Cada vez mais cidades, escolas, bibliotecas dinamizam feiras do livro. Mas como entender este louvável fenómeno, se estudos e notícias dão conta que “Temos os níveis de leitura mais baixos da Europa a 27”? Mais: nos seus estudos, o investigador José Soares Neves, no “Observatório das Desigualdades”, para o Eurobarómetro, refere que “Portugal situa-se frequentemente nos últimos lugares nos estudos internacionais sobre participação cultural”. Em grande parte, os baixos índices são atribuídos à crise, mas não podemos esquecer as sucessivas políticas levadas a cabo, políticas que pura e simplesmente, renunciam o bem cultural.

Tanta feira, tanto livro, tanta biblioteca, mas tão pouca leitura, porque os que lêem são sempre os mesmos, os que já tinham hábitos de leitura, que os ganharam de alguma forma, ou os criaram por si sós. Difícil é criar novos hábitos, formar novos leitores.

Temos elevadíssimos índices de utilização de telemóveis por estudantes nas escolas e de utilização de jogos electrónicos por crianças, jovens e adultos.

Nas escolas, os programas de Língua Portuguesa e de Matemática, e de todas as disciplinas no geral, têm seguido caminhos desastrosos, quando a democratização do ensino não tinha de ser marcada pela falta de qualidade.  

Também não podemos esquecer que os preços dos livros são muito elevados, comparativamente com outros países. Por outro lado, o entendimento português pode não olhar a dinheiros quando toca a adquirir um “gadget”, um novo brinquedo tecnológico que, muitas das vezes, utilizará apenas para lazer, para encher a cabeça com jogos, futilidades, tempo oco; enquanto que, para adquirir um livro, simplesmente, diz “é caro”, e não compra. Depois, há aquela gente engraçada que compra livros, livros e mais livros sem nunca ter lido um. São uma espécie de colecionadores de livros, fazem pilhas de livros em casa, ou arrumam-nos muito bem alinhadinhos nas prateleiras, sem os lerem – eu acho que nunca vou entender essas pessoas, mas não deixa de ser curioso.

Maio é a inflorescência: das palavras, das cerejas, dos livros, da leitura.

A esperança renovada no Mês de Maio, nos dias infinitamente maiores.


Valha-nos um mês assim!

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