sábado, 31 de maio de 2014

E A DEMOCRACIA? INTERESSA-TE?

Há cinco dias alguns portugueses foram votar nas eleições para o parlamento europeu. Muitos
GABRIEL VILAS BOAS
DR
fingiram que não sabiam que havia eleições, outros não sabiam mesmo… mas não se ralaram com isso. Resultado: 66% dos portugueses não foi votar. Na Europa, foi mais ou menos a mesma coisa, todavia, nalguns países, os cidadãos estão preocupados porque… a extrema-direita “cresce”. Como a extrema-direita se aproveita da democracia para a destruir, só posso concluir que são muito poucos aqueles que querem saber da democracia.

A maioria dos portugueses diz-se cansada e farta dos partidos políticos. Alega que está cheia de ser enganada e por isso não vota.

E os partidos aborrecidos com isso… Nem perderam um minuto com essa justificação. No dia seguinte, a sua preocupação era saber como garantir, com mais segurança, novas vitórias, em futuras eleições.

Para os partidos políticos, o raciocínio é muito simples: não votam porque não querem; o mal é deles (lá nisso têm mesmo razão), porque nós continuamos por cá, a fazer o que queremos, a tratar das nossas vidinhas e sem paciência para aturar populações que nem votam, por isso deixaram de ter moral para falar.

A democracia é muito mais do que os partidos políticos. E ainda que o regime democrático esteja “armadilhado” pelos aparelhos partidários é sempre possível furar a lógica dos grandes partidos, como o demonstrou Marinho Pinto e o MPT que num ápice conquistaram tantos eurodeputados como o Bloco de Esquerda e o CDS juntos e quase igualaram o mais antigo partido político português (PCP).

O argumento de que não nos revemos nos políticos nem nas suas propostas não colhe. Para esse caso, temos o voto em branco. Abster-se é desistir, é não se importar com o destino coletivo do seu país e do seu povo. É desdenhar de quem durante quarenta lutou pela democracia. Com que moral reivindicamos, de seguida? 

Achamos que está tudo mal e que a nossa intervenção não acrescentaria nada? Pensamos que estas eleições não são importantes? Se está mal, ainda pode piorar. Basta analisar o nível médio da qualidade dos nossos governantes para perceber que estamos em queda acentuada de qualidade. Quanto às eleições, como podemos dizer que não são importantes, quando acabamos há poucos dias de ser intervencionadas pela troika e culpávamos, dia sim, dia não, Merkel e os malvados dos países ricos do norte da Europa por nos imporem uma austeridade desumana? De onde vêm a maioria das directrizes que a ASAE aplica? 

A grande conclusão que tiro das eleições de domingo é que não quisemos saber da democracia. E quando tu não queres saber da tua liberdade política, alguém vai quer saber por ti. Para a condicionar, para a manipular, para a subverter.

Um dia destes, desesperado, vais dizer que é preferível o ditador. Tu que não sabes o que é uma ditadura e gemes com uma troika qualquer de dois anos…. Alguém sorrirá e se disponibilizará para te fazer a vontade. Será a tua última vontade porque a partir daí não terás direito a mais nenhuma.


Nesses dias haverá sol, jogos de futebol, e tu até ganharás um pouco melhor, mas terás imensas saudades dos dias em que podias… votar!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

LEITURAS DE MAIO

Maio é um mês muito interessante no calendário.
ANABELA BORGES
DR

A primavera carrega todo o seu esplendor no mês de Maio. No ar, paira o odor de um tempo que se eleva forte das entranhas da terra, a repuxar o esplendor da natureza aos seus valores mais elevados, em flores, rebentos, insectos, pólenes, – Maio quente, Maio frio, Maio altivo.  

As cerejas ao borralho, sem dúvida, em Maio. E as palavras, que são como as cerejas, também se tornam mais cheiinhas de sentido em Maio. 

Com Maio, chegam as feiras do livro.  Com Maio, as festas do livro e da leitura.

Cada vez mais cidades, escolas, bibliotecas dinamizam feiras do livro. Mas como entender este louvável fenómeno, se estudos e notícias dão conta que “Temos os níveis de leitura mais baixos da Europa a 27”? Mais: nos seus estudos, o investigador José Soares Neves, no “Observatório das Desigualdades”, para o Eurobarómetro, refere que “Portugal situa-se frequentemente nos últimos lugares nos estudos internacionais sobre participação cultural”. Em grande parte, os baixos índices são atribuídos à crise, mas não podemos esquecer as sucessivas políticas levadas a cabo, políticas que pura e simplesmente, renunciam o bem cultural.

Tanta feira, tanto livro, tanta biblioteca, mas tão pouca leitura, porque os que lêem são sempre os mesmos, os que já tinham hábitos de leitura, que os ganharam de alguma forma, ou os criaram por si sós. Difícil é criar novos hábitos, formar novos leitores.

Temos elevadíssimos índices de utilização de telemóveis por estudantes nas escolas e de utilização de jogos electrónicos por crianças, jovens e adultos.

Nas escolas, os programas de Língua Portuguesa e de Matemática, e de todas as disciplinas no geral, têm seguido caminhos desastrosos, quando a democratização do ensino não tinha de ser marcada pela falta de qualidade.  

Também não podemos esquecer que os preços dos livros são muito elevados, comparativamente com outros países. Por outro lado, o entendimento português pode não olhar a dinheiros quando toca a adquirir um “gadget”, um novo brinquedo tecnológico que, muitas das vezes, utilizará apenas para lazer, para encher a cabeça com jogos, futilidades, tempo oco; enquanto que, para adquirir um livro, simplesmente, diz “é caro”, e não compra. Depois, há aquela gente engraçada que compra livros, livros e mais livros sem nunca ter lido um. São uma espécie de colecionadores de livros, fazem pilhas de livros em casa, ou arrumam-nos muito bem alinhadinhos nas prateleiras, sem os lerem – eu acho que nunca vou entender essas pessoas, mas não deixa de ser curioso.

Maio é a inflorescência: das palavras, das cerejas, dos livros, da leitura.

A esperança renovada no Mês de Maio, nos dias infinitamente maiores.


Valha-nos um mês assim!

sábado, 24 de maio de 2014

OS EXAMES

GABRIEL VILAS BOAS
DR
Os alunos de 4º e do 6º ano de escolaridade realizaram, esta semana, os exames de Português e Matemática. Os resultados obtidos pelos alunos influenciam em 30% a nota final dos alunos nas referidas disciplinas e, talvez por isso, os alunos empenham-se especialmente no estudo do Português e da Matemática nas últimas semanas.

Eu concordo com a existência de exames. Não só para os alunos do 12º e 9º ano, mas também para os mais novos, ou seja, os alunos do 6º e 4º ano. E concordo exatamente com a ponderação que atualmente existe, pois defende o trabalho realizado ao longo do ano letivo, nas escolas, por professores e alunos, ao mesmo tempo que coloca aos alunos e escola o “desafio” de testarem a qualidade do trabalho desenvolvido numa prova de âmbito nacional. 

Muitos dirão que uma prova não prova nada! Eu direi que prova sempre alguma coisa. Em primeiro lugar, testa a qualidade do trabalho desenvolvido por professores e alunos; depois, impõe o respeito pela escola e pela aprendizagem que alguns alunos tinham perdido, quando critérios de avaliação amigos lhes permitiam passar de ano sem grande mérito. Os exames fazem muito pelos valores de exigência, equidade e justiça (relativa e absoluta) na atribuição de notas nas escolas. 
Acresce a isto o fator psicológico. Alunos e encarregados de educação têm um “respeito superior” a estas provas. Preparam-nas com mais empenho e seriedade. E ainda que este medo seja, em muitos casos, tolo, não faz mal nenhum. 

Acho correta a existência de exames em todos os ciclos de ensino, pois são a melhor forma de validar a qualidade do sistema. Claro que os exames não são nenhuma panaceia, mas são um contributo importante, que pode ser melhorado, não abandonado. O caminho que temos que fazer em relação aos exames é de estabilização e melhoria. A começar pelas datas em que são realizados. Este é um assunto que deveria merecer uma reflexão cuidada dos principais agentes envolvidos: professores, alunos e pais. Curiosamente, estes elementos nunca foram ouvidos sobre o assunto. 
O atual modelo tem inconvenientes e algumas vantagens, todavia julgo que é possível melhorá-lo, no sentido de criar as melhores condições para que os alunos usufruam das melhores condições psicológicas para tirar bons resultados. 

Na minha opinião, seria também possível criar um modelo de realização de provas que não comprometesse a realização das aulas dos outros anos letivos, pois em alguns casos alunos dos outros anos letivos podem ficar sem todas as aulas duma determinada disciplina dessa semana. Ora quando o período letivo é já de si curto e cheio de feriados, isso pode revelar-se problemático para um professor que assim terá 5/6 aulas para lecionar durante um período inteiro. 

Ainda quanto à problemática dos exames, gostaria de introduzir uma outra questão: as disciplinas sobre que incidem. Os exames do 1º, 2º e 3º ciclos incidem apenas sobre as disciplinas de Matemática e Português. Ainda que reconheça uma relevância superior a estas disciplinas, considero que seria importante alargar os exames a outras duas ou três disciplinas. Uma da área das línguas (Inglês), outra da área das ciências (Ciências ou F. Química) e outra da área das ciências sociais (História). São áreas relevantes na formação dos nossos jovens e cujo trabalho nas escolas devia ser aferido do mesmo modo que o Português e a Matemática. Obviamente que isso implicaria uma calendarização mais eficaz e organizada e um maior trabalho administrativo nas escolas. Mas as vantagens seriam algumas e não negligenciáveis. Seria bom para as disciplinas em questão, para as escolas e para os alunos. Seria também um modo de todos irmos de férias ao mesmo tempo…

sexta-feira, 16 de maio de 2014

VOLUNTÁRIO À FORÇA

GABRIEL VILAS BOAS
DR
A partir de 2017, os cerca de 320 mil alunos da Universidade de Buenos Aires (UBA) passarão a ter que realizar atividades solidárias para que possam terminar os estudos e obter o seu diploma, de acordo com uma diretiva da própria entidade – que é pública e gratuita. No entendimento dos diretores e professores, a sociedade deve ser “recompensada” por ter permitido aos alunos a oportunidade de usufruírem de um ensino gratuito. 

Li esta notícia e não pude deixar de ficar perplexo. Sou totalmente a favor do voluntariado e acho que é uma das pechas da sociedade atual, mas acho bizarra a ideia de voluntariado à força ou, numa versão mais suave, voluntariado por constrangimento. 

O voluntariado é uma atitude nobre e não pode ser imposta, pois corremos o risco de matar um conceito que deve ser desenvolvido e acarinhado. 

O voluntariado é a maneira que cada um tem de mostrar o seu comprometimento com a sociedade em que se insere; é a forma de mostrar os valores que preza; é o modo de contribuir para um bem comum. 

O voluntariado não é um espetáculo, uma atitude extemporânea ou modo de promover uma imagem. O voluntariado faz-se em silêncio, perto de casa e com simplicidade. Tem que ser uma atitude consistente, implicar esforço de quem o faz e ser encarado com espírito de missão. Não pode envolver qualquer sentido de superioridade moral, vaidade intelectual ou aproveitamento pessoal. 

Acho que o voluntariado é uma questão de cultura de povo. Os que ainda não o têm enraizado podem adquiri-lo ou implementá-lo através da escola, não na universidade nem com um carácter obrigatório. 

Defendo que o voluntariado deve ser ensinado desde o 1º ciclo escolar. As crianças devem perceber as suas vantagens e praticá-las, ficando bem claro que a vontade do próprio em executar essas tarefas é muito relevante. 

Há dois anos atrás desenvolvi com os meus alunos do 3º ciclo uma atividade em que lhes mostrei os principais centros de apoio social de Amarante (Cerci, Lares, Centros de Dia, Apoio a Invisuais). O trabalho foi feito com dois/três alunos de cada vez, numa tarde sem aulas dos alunos, sem qualquer carácter obrigatório e sem qualquer benefício ao nível da classificação final deles na minha disciplina. 

Dum total de vinte e sete alunos, só uma aluna recusou participar no projeto. O objetivo foi mostrar-lhes como podiam ajudar aqueles que, perto deles, mais necessitavam, despendendo um pouco do seu tempo livre, uma vez por semana. Todos aqueles que participaram ficaram sensibilizados e gostaram da ideia. 

Tenho consciência que o meu trabalho não foi além da consciencialização e muito poucos foram aqueles que continuaram a praticar voluntariado. Todavia, ficou a semente. Espero que ela germine em algum dos meus ex-alunos. 

Ainda que o caminho seja longo e difícil, não podemos ir pela imposição. É um contra senso absoluto. As ações solidárias não resultam duma imposição, mas duma vontade. Só assim nascem as sociedades fortes e convictas.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

ENCONTROS MARAVILHOSOS

ANABELA BORGES
DR
Deixo o Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto em direção a Amarante. Trago um belo ramo de flores, mas trago, acima de tudo, uma grande satisfação. O dia, 1 de Abril, marca um dia de Primavera no calendário, mas as condições atmosféricas são as perfeitas… de um dia de Inverno. Valha-nos que, hoje, eu trago a primavera no coração.
Atravesso a comprida via-rápida, flanqueada de vegetação e algumas casas pequeninas, em pedra, que a evolução não apagou. Depois, subo, deixo para trás Vila Garcia e tomo o rumo das terras de Pascoaes, passo São Pedro de Aboim e Gatão, muita ruralidade ainda. Ali, mesmo às portas da cidade, o tempo de Pascoaes quase parado… Do outro lado do vale, do lugar onde uma linha de caminho-de-ferro já foi a principal ligação entre Amarante e Celorico, as fábricas da Tabopan, o lugar onde nasci, a casinha dos meus pais, encolhida na paisagem alterada, o lugar onde nasceram os meus sonhos. O vale fundo, a vegetação mais ou menos densa, os campos de cultivo, alguma ruralidade mais.
Regressar de um encontro com alunos, enquanto autora, deixa-me assim, cheia de inspiração e de satisfação. A satisfação é tão grande que chega a ser daquelas que muitos de nós já experimentámos, que é quando não nos cabe o coração dentro do peito.
Levo histórias para contar e trago as mãos cheias de sorrisos e palavras como flores.

As reações dos alunos são as mais variadas: os mais crescidos são os mais difíceis de conquistar – olham-me com desconfiança e estão à espera que as histórias não sejam boas, que eu deslize para um qualquer patamar que não lhes diga nada, para que eles tenham razão (a adolescência é um lugar complicado…) –, mas acontece que a conversa flui, vai desenvolvendo a VIDA (porque as histórias são isso), até que eles se vêem completamente envolvidos  na actividade, com questões de grande pertinência, normalmente coincidindo com essa fase esquisita das suas vidas, que é a adolescência; os mais pequenos são mais genuínos, ainda mantêm intacta a inocência e estão ali para beber as histórias e para participar nelas – e muitas vezes é possível reconstruí-las como se fossem castelos de legos, cada um a querer acrescentar um elemento à história, um arrebite, uma torre mais alta, um mimo, uma palavra.
No final, os alunos mais velhos, que muitas vezes não desvendam nada, não exteriorizam, mostram a sua gratidão, em respeito, saindo silenciosamente da sala, talvez ainda a pensarem nas reflexões que pairam sobre as suas cabeças, das histórias, na circunstância do momento, que para eles é a vida ali exposta. Alguns deles ficam para trás, para falarem comigo em particular, para me dizerem coisas que não dirão a mais ninguém. E os pequeninos, esses, vêm abraçar-me as pernas e pedir-me beijinhos e dizer-me que sou bonita – “muito, muito”.
Os professores recebem-me sempre com um sorriso nos lábios, mesmo andando a nadar na máquina burocrática em que Governos sucessivos mergulharam as escolas, preparam os alunos para o momento e vê-se que os seus dias, a marcar compassos de espera num país que se faz lento e adormecido, se fazem destes momentos compensatórios. Assim marcam pontos. 

São mágicos estes encontros.
Têm a magia de me tornarem uma pessoa mais rica e mais feliz. Eu não os trocaria por nada.           

Maio. Faz calor de Primavera: venho do Centro Escolar de Freamunde, onde sou AUTORA DO MÊS, com as minhas fábulas AS FAMÍLIAS DOAS ANIMAIS. Eu aprendo TANTO com os pequeninos!
Os pequeninos do Pré-escolar: “A cadelinha estava triste, porque queria um namorado. Casaram e tiveram filhos. Houve muito sol.”


Fiquemos, pois, a atender os dias na primavera da vida, que se faz essencialmente da PARTILHA.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

NÃO É DE HOMEM!

GABRIEL VILAS BOAS
DR
Há poucos dias uma advogada foi assassinada, em Estremoz, pelo marido duma sua constituinte, a quem tratava do divórcio. Alegadamente, o homem não terá gostado da maneira como a advogada de cinquenta anos defendia a sua cliente e esposa do homicida e, depois da ameaça, matou a advogada. 
O caso chocou-me particularmente. Não por se tratar duma advogada, mas sim por se tratar de mais um passo na escalada do flagelo da violência doméstica em Portugal.
A violência doméstica deixou os domínios da coação física e psicológica exercida durante anos, ultrapassou o campo da violência física brutal e instalou-se na esfera do crime. A notícia já não é feita de agressões mas de mortes.
Na minha opinião, a sociedade portuguesa tem de olhar para este problema de forma corajosa e intervir a vários níveis sem contemplações, para que daqui a poucos anos estas mortes sejam apenas referidas como uma estatística e não como uma tragédia.
Tenho muita dificuldade em entender qualquer razão que justifique a violência dum homem sobre uma mulher, porque simplesmente essa razão não existe. Em primeiro lugar, porque muito raramente a violência é justificável como meio de resolver um conflito; depois, porque a violência exercida sobre um ser humano mais frágil fisicamente é um ato de cobardia e de menoridade intelectual e afetiva; e, finalmente, porque quem ama ou amou uma mulher jamais poderá encontrar na violência uma maneira de extravasar as suas mágoas, frustrações, raiva ou ódio.
A violência desqualifica quem a pratica e coloca-o ao nível da besta. É inconcebível que uma sociedade escolarizada, como é a portuguesa, ainda continue a produzir estas aberrações. Não é uma questão de falta de cultura académica nem de excesso de violência nos meios de comunicação social. Essa violência existe, mas é residual. Também não me parece bem que o alcoolismo de alguns energúmenos explique tudo. Essa é uma justificação minoritária.
A explicação está na cultura social que produzimos. É uma cultura oportunista, cheia de “encolher de ombros”, de falta de coragem e de falta de ação. Muitas vezes, penso que estes temas só interessam verdadeiramente a quem sofre estes dramas: mulheres, filhos, amigos mais chegados. Ora não é preciso vivenciar o terror para o rejeitar veementemente. E a rejeição deste tipo de comportamentos tem de se ser explícita e ativa. Os adolescentes e jovens têm de ser decididos na rejeição da violência no namoro, jamais desculpabilizando o agressor ou silenciando a agressão. Amar alguém nunca significará fechar os olhos à violência, amar alguém tem de ser também não perder a dignidade nem o amor-próprio. Os proto-agressores devem ver desde o primeiro momento a reprovação da sua atitude animalesca.
A escola tem um papel relevante nesta cruzada. A violência doméstica e no namoro já é tema tratado pelos nossos adolescentes no ensino básico, mas é fundamental sê-lo de maneira mais incisiva no ensino secundário e no universitário. Não se pode pensar que tal ação representa uma menorização das jovens ou uma humilhação dos rapazes. Há que ser proativo e assertivo: se há cada vez mais violência doméstica é porque a prevenção falhou. Os homens que hoje agridem aos 30, 40 0u 50 anos foram adolescentes e jovens, em quem a escola e a sociedade confiaram cegamente e… erradamente. Os erros corrigem-se, sem pejos nem vergonhas. 
A isto acresce, em meu entender, uma medida fundamental: é preciso os homens estarem na primeira linha do combate. Devem ser eles a envergonhar, condenar, punir socialmente aqueles que enxovalham, coagem e agridem uma mulher.
Não é a sua presença física que inibe os agressores (ainda que tal não seja despiciendo), mas a sua condenação moral inequívoca que faz recuar as garras do agressor e até lhes pode cortar as unhas para sempre.
É necessário sarar muitas feridas, repor a auto-estima de milhares de pessoas, recuperar o prazer de viver e de amar. 
A luta contra a violência doméstica é também uma luta dos homens pela sua dignidade e pela liberdade.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A.M. PIRES CABRAL: AUTOR TRANSMONTANO, PRÉMIO AUTORES SPA 2014

ALINA SOUSA VAZ
DR
Em abril, pela comemoração dos 40 anos de António Manuel Pires Cabral escrevi, por aí algures, que a Cultura é quando o homem sonha e coloca as suas ideias em ação. O elogio dado ao escritor foram meras palavras que escritas no mundo WEB deixaram de ser minhas e passaram a ser de quem as leu e as entendeu como eu.

Se abril foi comemoração, maio é confirmação da sua grandiosidade literária. Não é a primeira vez que o escritor ganha o “primeiro prémio”, mas no ano da comemoração dos seus 40 anos de escrita o seu livro GAVETA DO FUNDO foi distinguido como a melhor obra de poesia.

Estou orgulhosa!!! Orgulhosa por ser transmontana, por acompanhar de uma maneira ou de outra o escritor de perto, de o conhecer e receber de si sempre palavras de afeto e respeito, de perceber que por estas terras há alguém que eleva o nome da região na área da literatura.

Refira-se que os seus Pais, Manuel do Nascimento Pires Cabral, farmacêutico, e D. Maria de Jesus Terra Cabral, dona de casa, eram naturais, respetivamente, de Alvites, Mirandela, e de Peredo, Macedo de Cavaleiros. Daí, apesar da sua fonte de inspiração ser tudo o que o envolve, as terras ímpares do nordeste transmontano são, sem dúvida, a sua eleição na hora do labor da descrição.  

Com esta obra, A. M. Pires Cabral regressa ao tema de Trás-os-Montes, em tom elegíaco, pois já tinha iniciado o seu trabalho com um fascinante conjunto de poemas com os quais iniciara o chamado «ciclo do Nordeste» («Algures a Nordeste», «Boleto em Constantim», «Douro: Pizzicato e Chula», «Arado» e «Cobra-d’Água»).

 «THip-hip-hurrah! Acabo de ser notificado de que o meu livro 'Gaveta do fundo' foi distinguido com o Prémio Autores SPA 2014 (Melhor Livro de Poesia). Quem está de parabéns é a minha Terra Quente.» Expressão que o poeta utiliza para transferir a sua felicidade nas redes sociais a todos aqueles que o seguem como eu. 

Esta terra quente é agora diferente da que ele conheceu outrora. Hoje, ela está despovoada e envelhecida, mas a coletânea revive, numa espécie de nostalgia, o rio Tua, as vinhas e furnas, a lavoura, a «guarda pretoriana» os gatos e cães, as rãs e vacas, as aves e pirilampos. Numa linguagem, por vezes, disfórica, o sarcasmo associado ao alegórico revela o seu estado de alma zangado com os que mandam e ditam os certames portugueses. Contudo, o poeta, também, revela comoção com tradições populares, simples e naturais que ainda dão vida às coletividades esquecidas no interior do país.

Pois bem, é hora de mais uma comemoração e espalhar por aí mais esta conquista. Uma conquista regional, mas cada vez mais nacional!

E proferindo as palavras do autor:
Há ocasiões em que a árvore tapa a floresta. Mas também há casos em que se dá o contrário: a floresta tapar a árvore. Penso nisso ao contemplar esta florzinha silvestre. A exuberância do todo ofusca, oculta os pequenos pormenores. Façam o favor de os descobrir. Vale a pena.

E feliz termino – hip-hip-hurrah!!!


sexta-feira, 2 de maio de 2014

SER MÃE...

GABRIEL VILAS BOAS
DRSER
Ser mãe é uma coisa verdadeiramente extraordinária, maravilhosa e única. Qualquer mulher o afirma com um sorriso de felicidade que lhe brota da alma e desagua num olhar terno e doce que dura para sempre.

Para muitas mulheres ser Mãe resume o seu projeto de vida. Através da maternidade, realizam-se e são felizes.

E talvez seja esta a melhor forma que um ser humano tem de ser feliz porque, embora recebam muito, elas retribuem em dobro.

A maternidade é a melhor dádiva que a Mulher oferta à humanidade. Não porque, com ela, assegura a sobrevivência da espécie, mas porque ensina o Amor.

Desde as primeiras semanas de gestação, começa a amar silenciosamente o seu filho. Será assim até ao fim! Sem cansaço, sem desilusão ou dúvida.

Em cada gesto, em cada olhar, em cada decisão, o filho percebe a presença da Mãe. Ele conta com ela para o proteger, para o guiar e aconselhar, para lhe ensinar os mistérios da vida, do mundo e das pessoas.

E até a mais inculta das mães saberá encontrar a resposta perfeita para cada dúvida, cada erro ou cada medo do seu filho.

Talvez por isso Carlos Drummond de Andrade tenha escrito um dia:

“Fosse eu Rei do mundo


Baixava uma lei:

Mãe não morre nunca” 


Infelizmente Drummond de Andrade só foi poeta e por isso as mães emudecem e tornam-se apenas imortais no coração dos filhos. Para sempre…

Algum tempo antes de partirem, muitas delas legam aos seus deuses o mais precioso dos seus tesouros – a capacidade de amar e assim tornar outras mulheres tão felizes e únicas como elas foram.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

I de MAIO DIA DO TRABALHADOR



“Todos têm direito ao trabalho. 
[…] incumbe ao Estado promover: a) A execução de políticas de pleno emprego; 
b) A igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de trabalho e condições para que não seja vedado ou limitado, em função do sexo, o acesso a quaisquer cargos, trabalho ou categorias profissionais;
c) A formação cultural e técnica e a valorização profissional dos trabalhadores.” 
Constituição da República Portuguesa, Artigo 58.º - Direito ao trabalho

ANABELA BORGES
DR


O trabalho, como podemos ler numa informação da Infopedia, “motor essencial e indispensável para o desenvolvimento de qualquer sociedade, constitui uma realidade particularmente sensível e de extrema relevância económica, social e política”. 

O direito ao trabalho assume particular importância na vida dos membros ativos da sociedade, sobretudo se pensarmos que dele depende a manutenção da integridade humana, a vários níveis. 

O mundo não se dá ao trabalho. O mundo é o que as pessoas fazem e não fazem dele, mais o que faz e o que não faz a Natureza, que, às vezes, não é assim tanto nem tão pouco, dando-nos muito a ganhar e a perder na roda giratória em que nos movimentamos – Mundo.

Em 1886, deu-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, nos Estados Unidos, com a finalidade de reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Surpreendentemente, contou com a participação de milhares de pessoas. Sucederam-se outras manifestações e escaramuças, que resultaram na morte de vários manifestantes e de alguns agentes policiais, acontecimentos que ficaram conhecidos como a Revolta de Haymarket. E foi três anos mais tarde, em Junho de 1889, que a Internacional Socialista, reunida em Paris, decidiu convocar anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. 


EM PORTUGAL, 1974:

O Serviço de Informação das Forças Armadas entregou um Decreto-Lei que institui o 1.º de Maio como feriado nacional, o Dia do Trabalhador.

“Tendo a Junta de Salvação Nacional assumido os poderes legislativos que competem ao governo, decreta para valer como lei o seguinte:

Artigo 11: É instituído como feriado nacional obrigatório o dia um de Maio, considerado Dia do Trabalhador; […]
Visto e aprovado pela Junta de Salvação Nacional em 27 de Abril de 1974”. Assina o decreto-lei o presidente da Junta de Salvação Nacional.

Tudo o que foi criado para se firmar neste dia, 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, pode hoje facilmente ser posto em causa.

O mundo não oferece condições igualitárias, nem Estados de direito aos Seres Humanos que o habitam.

O que podemos esperar de sociedades que não respeitam os seus velhos, as crianças, as mulheres, os animais? O que podemos esperar quando as pessoas são escravizadas por meio do trabalho? E quando o próprio Estado escraviza os seus cidadãos?

Numa Europa cheia de desemprego, o que esperar?

Pois, para mim, o 1.º de Maio dá-me para falar de tudo, a partir do momento em que é utilizado o termo “direito”.

Não tenhamos ilusões, pois que é mais do que muita a escravidão praticada no século XXI. Se “formos” por esse mundo fora, só podemos sentir vergonha da humilhação, da falta de dignidade a que estão sujeitos os nossos semelhantes, seja pela exploração no trabalho, seja pela falta deste.

Há muito a fazer no que toca a dar VOZ ao 1.º de Maio.